Marlene Constantino

Cada pedacinhos de sonhos guardados, quando tocados renascem, voam como borboletas

Meu Diário
13/05/2019 12h35
DA SAUDADE E DA URGÊNCIA

 

" Ama-me,
agora
antes que a palavra chegue.

Toca-me
antes que haja mundo,

Beija-me
antes que comece o beijo.

Despe-me
para que eu esqueça ter corpo.

Devolve-me
o reino onde fui deus.

Ama-me
até não sermos dois.

Ama-me.
E tudo será depois."

- Mia Couto.
In "Vagas e Lumes"


Publicado por Marlene Constantino em 13/05/2019 às 12h35
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29/12/2018 00h33
O INSTANTE ANTES DO BEIJO

 

" Não quero o primeiro beijo: 
basta-me 
O instante antes do beijo.

Quero-me 
corpo ante o abismo, 
terra no rasgão do sismo.

O lábio ardendo 
entre tremor e temor, 
o escurecer da luz 
no desaguar dos corpos: 
o amor 
não tem depois.

Quero o vulcão 
que na terra não toca: 
o beijo antes de ser boca."

- Mia Couto,
in 'Tradutor de Chuvas'


Publicado por Marlene Constantino em 29/12/2018 às 00h33
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17/08/2018 23h43
AMO O QUE VEJO


Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.

No plácido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.

Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que também, nada sabem.

Ricardo Reis, in “Odes”
heterônimo de Fernando Pessoa


Publicado por Marlene Constantino em 17/08/2018 às 23h43
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17/08/2018 13h22
NÃO DIGAS NADA

Não digas nada! 
Nem mesmo a verdade 
Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender — 
Tudo metade 
De sentir e de ver... 
Não digas nada 
Deixa esquecer 

Talvez que amanhã 
Em outra paisagem 
Digas que foi vã 
Toda essa viagem 
Até onde quis 
Ser quem me agrada... 
Mas ali fui feliz 
Não digas nada. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 


Publicado por Marlene Constantino em 17/08/2018 às 13h22
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17/08/2018 13h06
ENTRE O SONO E O SONHO

Entre o sono e sonho, 
Entre mim e o que em mim 
É o quem eu me suponho 
Corre um rio sem fim. 

Passou por outras margens, 
Diversas mais além, 
Naquelas várias viagens 
Que todo o rio tem. 

Chegou onde hoje habito 
A casa que hoje sou. 
Passa, se eu me medito; 
Se desperto, passou. 

E quem me sinto e morre 
No que me liga a mim 
Dorme onde o rio corre — 
Esse rio sem fim. 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 


Publicado por Marlene Constantino em 17/08/2018 às 13h06
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