Marlene Constantino

Cada pedacinhos de sonhos guardados, quando tocados renascem, voam como borboletas

Meu Diário
28/11/2021 22h05
EU

 

 

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

 

FLORBELA ESPANCA

 


Publicado por Marlene Constantino em 28/11/2021 às 22h05
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29/09/2021 15h03
AMEI-TE SEM SABERES

 

no avesso das palavras

na contrária face da minha solidão

eu te amei e acariciei

o teu imperceptível crescer

como carne da lua

nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes

amei-te sem o saber

amando de te procurar

amando de te inventar

No contorno do fogo

desenhei o teu rosto

e para te reconhecer

mudei de corpo

troquei de noites

juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar

à tua intermitente ausência

ensinei às timbilas

a espera do silêncio.

Mia Couto - livro "Raiz de Orvalho"

 

 

 


Publicado por Marlene Constantino em 29/09/2021 às 15h03
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17/05/2020 08h35
POESIAS DE LEONADO

 

No escuro o amor dorme

quando vem o sol me apaixono.

Então, quando chegar o dia

vou dizer que amo você.

Vovó, é preciso amar a vida!

(Poesia de Leonardo

(meu poetinha de 5 anos de idade)


Publicado por Marlene Constantino em 17/05/2020 às 08h35
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20/04/2020 00h27
O AMOR, MEU AMOR

 

Nosso amor é impuro 
como impura é a luz e a água 
e tudo quanto nasce 
e vive além do tempo. 

Minhas pernas são água, 
as tuas são luz 
e dão a volta ao universo 
quando se enlaçam 
até se tornarem deserto e escuro. 
E eu sofro de te abraçar 
depois de te abraçar para não sofrer. 

E toco-te 
para deixares de ter corpo 
e o meu corpo nasce 
quando se extingue no teu. 

E respiro em ti 
para me sufocar 
e espreito em tua claridade 
para me cegar, 
meu Sol vertido em Lua, 
minha noite alvorecida. 

Tu me bebes 
e eu me converto na tua sede. 
Meus lábios mordem, 
meus dentes beijam, 
minha pele te veste 
e ficas ainda mais despida. 

Pudesse eu ser tu 
E em tua saudade ser a minha própria espera. 

Mas eu deito-me em teu leito 
Quando apenas queria dormir em ti. 

E sonho-te 
Quando ansiava ser um sonho teu. 

E levito, voo de semente, 
para em mim mesmo te plantar 
menos que flor: simples perfume, 
lembrança de pétala sem chão onde tombar. 

Teus olhos inundando os meus 
e a minha vida, já sem leito, 
vai galgando margens 
até tudo ser mar. 
Esse mar que só há depois do mar. 

Mia Couto, in "idades cidades divindades" 

 

 


Publicado por Marlene Constantino em 20/04/2020 às 00h27
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08/12/2019 18h42
SAUDADE

 


Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono

 

Mia Couto -  In 'Raiz de Orvalho'


Publicado por Marlene Constantino em 08/12/2019 às 18h42
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